quinta-feira, 19 de abril de 2012

PREGAR: POR QUE É NECESSÁRIO MUITAS VEZES O PREGADOR TORNAR-SE UM TROVÃO NO PÚLPITO


      Perguntaram certa vez a João Batista quem ele era. João respondeu: "Eu sou a voz do que clama no deserto" (Jo 1.23). Assim se definiu João Batista. Eu achava que a definição ideal do pregador seria: "aquele que argumenta" e não "voz do que clama". Por que João Batista se definiu fundamentando-se no clamor e não no argumento? Por que não se definiu apoiando sua atividade de pregador na argumentação, e sim nos brados? Porque sobre muitas pessoas neste mundo, o falar alto tem muito mais poder do que os argumentos.    Vejamos uma prova disto em um exemplo envolvendo o Senhor Jesus.     Assim que Ele concluiu a exposição da parábola do semeador, começou a clamar (bradar): "Dizendo ele estas coisas, clamava: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça" (Lc 8.8). Jesus passou a clamar, e não se deteve mais em argumentar sobre a parábola, conforme fizera até ali, porque sobre aquele auditório os brados tinham mais poder do que os argumentos.        Vejamos outro exemplo bíblico.    Quando Pilatos examinou as acusações que os escribas e fariseus apresentavam contra Jesus, lavou as mãos e disse: "...nenhuma culpa, das de que o acusais, acho neste homem" (Lc 23.14). Enquanto Pilatos, na sua polidez e serenidade de governador, declarava isto tranquilamente, a atitude dos escribas e fariseus, acompanhados do povo, era outra: "Mas eles instavam [insistiam] com grandes gritos, pedindo que fosse crucificado. E os seus gritos, e os dos principais sacerdotes, redobravam" (Lc 23.23).
    Portanto, Cristo tinha a seu favor os argumentos e o parecer consciencioso de Pilatos, e contra si os gritos da multidão. E qual deles prevaleceu? Os gritos da multidão. O parecer sereno e racional de Pilatos não foi suficiente para o livrar, mas os gritos tiveram poder suficiente para o colocar na cruz.
    Tendo os gritos tanto poder sobre a humanidade, é necessário que em algumas ocasiões os pregadores clamem, bradem, gritem. 
     Certamente, foi por reconhecer que os pregadores muitas vezes terão a necessidade de gritar, que o profeta Isaías os chamou de nuvens: "Quem são esses que vêm voando como nuvens?..." (Is 60.8).
     A nuvem tem relâmpago, tem trovão e tem raio. Relâmpago para os olhos, trovão para os ouvidos, raio para o coração. Com o relâmpago ilumina, com o trovão assombra, com o raio mata. Mas o raio alcança a um, o relâmpago a muitos, o trovão a todos. Assim deve ser a voz do pregador: um trovão do céu que assombre e faça tremer o mundo. (Trecho do Sermão da Sexagéssima, pregado em 1655 na Capela Real, em Lisboa, pelo maior pregador da língua portuguesa, Antônio Vieira. Adaptado e atualizado para o leitor do século 21)
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